quinta-feira, 2 de abril de 2020

Datas Comemorativas

 Dia Internacional do Livro Infantil
Este dia celebra-se, anualmente, a 2 de abril, data comemorativa do nascimento do escritor dinamarquês, Hans Christian Andersen.
Esta data foi escolhida pelo Conselho Internacional sobre Literatura para os Jovens (IBBY), em 1967, como forma de homenagem a este grande escritor de literatura infantil e como uma chamada de atenção para a importância da leitura e para o papel fundamental dos livros para a infância.
Todos os anos é divulgada, pela IBBY, uma mensagem de incentivo à leitura, da autoria de um escritor de nacionalidade diferente que é depois traduzida e divulgada nos países que integram o IBBY. O cartaz português é sempre da autoria do ilustrador vencedor do Prémio Nacional de Ilustração.
Assim, este ano, a Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (Livro.DGLAB) convidou o ilustrador André Letria, vencedor do Prémio Nacional de Ilustração do ano passado, para ser o autor da imagem do cartaz. A mensagem internacional é, este ano, da responsabilidade da Eslovénia, e conta com um texto do escritor Peter Sventina.

                                                             FOME DE PALAVRAS
Na minha terra, os arbustos florescem em finais de abril, início de maio, e logo se enchem de casulos de borboletas. Parecem bolas de algodão ou pedacinhos de algodão doce, mas as crisálidas que ali de desenvolvem devoram folha após folha, até os arbustos ficarem despidos. Quando as borboletas saem destes casulos, iniciam os seus voos delicados, mas os arbustos não são destruídos. E quando chega o verão, florescem novamente, e assim acontece ano após ano. É isto que sucede ao escritor e ao poeta. São devorados, esvaziados pelas suas histórias ou poemas: quando estes já estão escritos, saem a voar para acabar nos livros e poderem encontrar os seus ouvintes ou leitores. E isto repete-se uma vez, e outra vez. O que acontece aos poemas e às histórias? Conheço um menino que foi operado aos olhos. Depois da cirurgia, teve de ficar duas semanas deitado sobre o lado direito. Durante um mês, não pode ler, não pode ler mesmo nada. Quando ao fim de um mês e meio pegou finalmente num livro,parecia que o livro era uma tigela onde apanhava palavras à colher. Como se as comesse. Como se verdadeiramente as comesse. Conheço uma rapariga que cresceu e é agora professora. Disse-me:coitadas das crianças a quem os pais não leem livros. As palavras nos poemas e nos contos são comida. Não são comida para o corpo: ninguém pode encher o estômago com elas. São comida para o espírito e para a alma. Quando temos fome e sede, o estômago encolhe-se e a boca seca.Procuramos um pedaço de pão, um prato de arroz, de milho, um peixe ou uma banana. Quanto mais fome se tem, mais a atenção diminui, e já não se vê mais nada para lá do pedaço de comida que nos saciaria. A fome de palavras não se manifesta deste modo, mas adquire a forma da melancolia, do esquecimento, da arrogância. As pessoas que sofrem este tipo de fome não percebem que as suas almas tremem de frio e lhes passam ao lado. Uma parte do mundo foge-lhes das mãos sem que disso tenham consciência. Esta fome pode ser saciada com contos e poemas. Mas haverá esperança para aqueles que nunca se alimentaram de palavras para satisfazer a fome? Sim, há. O menino lê quase todos os dias. A menina que já cresceu e se tornou professora lê histórias aos seus alunos. Todas as sextas. Todas as semanas. Se um dia se esquecer, os alunos vão lembrá-la. E quanto ao escritor e ao poeta? Quando chegar o verão, ficarão novamente verdes. E mais uma vez serão comidos pelas histórias e pelos poemas que escrevem, que voarão em todas as direções, como borboletas. Uma vez, e ainda outra vez. 
Peter Svetina (n. 1970, Ljubljana, Eslovénia) 
Tradução: Maria Carlos Loureiro

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