terça-feira, 7 de abril de 2020

Uma quarentena de Histórias: Artur e as Pessoas Muito Apressadas

Afinal andávamos a correr para onde?

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Numa altura em que grande parte de nós se encontra circunscrita ao espaço doméstico, talvez seja boa altura para refletir sobre a pressa que norteava os nossos dias antes de sermos obrigados a parar.

“Todas as manhãs, mal o Artur engole uma colherada dos seus cereais com chocolate, o papá diz-lhe: — Vá! Está na hora! Rápido! Rápido! Vamos chegar atrasados! 
E, todas as manhãs, por mais que o Artur não queira largar a tigela de cereais, a mamã agarra-lhe na mão, no casaco, na mochila e na lancheira, abre a porta e… zás!, lá vai ela escadas abaixo, com tudo atrás! E o estômago do Artur faz glub, glub, glub, o caminho inteiro até à escola.”
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E isto é só o início do dia do rapaz, já que, no recreio, pedem-lhe que seja rápido a descer o escorrega; na aula, dizem-lhe que se despache com os exercícios de Matemática; na cantina, ainda a meio da refeição, “a auxiliar exclama: — Muito bem! Muito bem! Podem ir!”
Para terminar a jornada: “Mal o Artur põe um pé fora da escola, o papá diz: — Rápido, rápido! Despacha-te! Tenho o carro mal estacionado! E agarra-lhe no braço, na mochila e na lancheira vazia e zás!, enfia tudo no banco de trás!”
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É cansativo, não é? A correria é de tal ordem que um dia os pais deixam o Artur para trás (a fazer lembrar o início do famoso filme Sozinho em Casa), ficando o rapaz a tomar o pequeno-almoço sozinho. Foi o melhor que lhe aconteceu.
Uma história que reproduz o quotidiano de muitas famílias, caricaturando-o, num convite a que se repense o ritmo de vida a que nos deixámos sujeitar. Por isso, uma leitura em conjunto poderá ajudar a criar novos hábitos e atenções entre todos.
A autora, Nadine Brun-Cosme, é francesa e tem livros publicados há mais de 20 anos. A ilustradora, Aurélie Guillerey, trabalha para várias editoras, para a imprensa e faz cartazes para teatro. “O seu trabalho é profundamente influenciado por designers gráficos e ilustradores das décadas de 1950 e 1960”, informa a editora.
Quanto ao pequeno Artur, conseguiu, pelo menos por uma vez, viver uma manhã ao seu próprio ritmo, sem deixar, no entanto, de ir para a escola. “Tudo está tranquilo, parece um dia de férias.” Por isso, “o Artur caminha devagarinho, tão devagarinho que poderia contar os seus passos”.
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E tem tempo para se imaginar a chegar junto dos amigos na proa de um navio, inspirado pela forma de uma nuvem que vislumbrou no caminho. “O Artur sente nas bochechas aquele ventinho que só se sente quando se anda muito devagar. ‘Que delícia’, pensou ele.”
Depois deste período de quarentena a que estamos sujeitos, talvez o Artur e outras crianças consigam que as suas famílias abrandem. Afinal, têm andado a correr para onde?

Artur e as Pessoas Muito Apressadas
Texto: Nadine Brun-Cosme
Tradução: Susana Cardoso Ferreira
Ilustração: Aurélie Guillerey
Revisão: Raquel Dutra Lopes

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