domingo, 7 de junho de 2020

Ler Histórias: A felicidade está nas pequenas coisas


Desfruta das pequenas coisas, um dia podem tornar-se as maiores da tua vida
Robert Brault

Era um daqueles dias de múltiplos afazeres e eu já estava atrasada nas tarefas de casa.
Há séculos que não ia ao supermercado e faltava quase tudo na despensa. A roupa para lavar empilhava-se, cada vez mais, no cesto, e a casa tinha ultrapassado os meus, bastante flexíveis, padrões de limpeza. Como se isto não bastasse, tinha de entregar dois artigos e precisava, por isso, de passar algum tempo diante do computador.
Os meus quatro filhos não tinham aulas naquele dia. Encantados por estar em casa, perguntavam-me, constantemente, o que iríamos fazer. Mas eu sabia que os meus planos os iam desapontar. Nenhum deles era divertido e especial.
Quando acordaram, deram-se conta de que não tinham as taças de cereais prontas, porque não havia leite. Só cereais secos… e eles não gostavam muito… Também não havia ovos ou pão, o que reduzia em muito as opções do pequeno-almoço. Bem procurei no congelador uma embalagem de waffles congeladas, mas não tive sorte. Acabei por encontrar um pacote de bolachas de manteiga. Reguei-as com açúcar e canela, pu-las no forno, e dei-as aos miúdos.
— Lamento não poder oferecer-vos algo de melhor, mas não tenho tempo para ir às compras.
Nem sequer responderam, demasiado ocupados que estavam a enfiar os rolinhos de canela improvisados na boca.
Depois do pequeno-almoço, pus uma máquina de roupa a lavar e sentei-me ao computador. A minha filha mais nova, Julia, veio ter comigo com uma cara de quem está prestes a chorar.
— Ó mãe, nós achávamos que hoje nos íamos divertir. É o nosso dia de folga!
— Sei que é o vosso dia de folga, mas não é o meu — respondi. — Tenho trabalho para fazer.
— Não podes brincar comigo aos cabeleireiros? — pediu.
Suspirei. Não tinha tempo para brincar, porque tinha trabalho urgente para fazer.
Foi então que tive uma ideia:
— E se brincássemos enquanto eu trabalho? — propus-lhe.
E foi assim que escrevi um artigo, enquanto ela me pintava as unhas dos pés.
O meu filho mais velho, Austin, ofereceu-se para fazer o almoço para eu poder continuar a trabalhar. Os mais novos ficaram encantados com as escolhas dele. Não que fossem dignas da pirâmide alimentar, mas eles gostaram e pude, assim, acabar o meu segundo artigo.
Pouco antes do almoço, fomos todos ao supermercado. O Austin empurrou o carro, enquanto os irmãos pegavam em cupões espalhados pela loja. Consegui comprar o que queria, mais alguns produtos extra selecionados pelos meus acompanhantes.
De volta a casa, os miúdos resolveram “brincar aos supermercados” com os cupões que tinham arranjado. Alinharam as latas nos balcões da cozinha e as refeições ligeiras na ilha central, e fingiram que estavam a vender o que tínhamos comprado.
Durante o resto da tarde, limpei a casa, dobrei a roupa, e comecei a fazer o jantar.
Os miúdos só interromperam o jogo com a chegada do pai.
Quando o meu marido, Eric, me viu, perguntou, com um sorriso rasgado:
— Então, que tal a folga de hoje?
Quando comecei a dizer que não tínhamos feito nada de especial, a Julia interrompeu-me:
— Pai, viste as unhas da mãe? Ela deixou-me sentar debaixo da mesa do computador e eu pintei-as enquanto ela escrevia. Foi tão divertido!
O Austin continuou:
— Hoje comemos o melhor pequeno-almoço de sempre! Já fizeste aquelas bolachas para o pai? Eram fantásticas!
O Eric olhou para mim, com um ar interrogador. Encolhi os ombros. Os meus filhos do meio, o Jordan e a Lea, revezaram-se a dizer ao pai que tinham jogado com os cupões e que o Austin tinha feito um almoço especial.
— Foi um dia ótimo, pai! Foi espetacular!
Olhei para as caras deles, cheias de entusiasmo. Entusiasmo com um pequeno-almoço a fingir, um almoço improvisado, cupões de um supermercado, e umas unhas pintadas.
— Tiveram mesmo um dia bom? Não ficaram desapontados por não termos feito algo de especial?
O Austin encolheu os ombros e disse:
— A vida é tão divertida quanto a fizermos!
Concordei com um aceno. A felicidade está mais na atitude do que nas circunstâncias. Abracei os meus filhos e agradeci-lhes por me lembrarem que devia procurar a felicidade nas pequenas coisas. A Julia sorriu e disse:
— São as pequenas coisas que nos fazem mais felizes, não são, mãe?
Os meus filhos são mesmo inteligentes…
Diane Stark

"Apresentação oral do capítulo "O Homem Muito Rico", da obra "A Fada Oriana" de Sophia de Mello Breyner Andresen...